sábado, 1 de novembro de 2014

Que fazer? O debate necessário!

Na última quinta-feira (30/10), o PSOL Amazonas promoveu um debate sobre a obra de Lênin “Que Fazer?”, para orientar o debate foi exibido um vídeo produzido pela Livraria Expressão Popular "Debate - Que fazer?, Lenincom participação de Ricardo Gebrim (Consulta Popular) e José Paulo Netoo (UFRJ).

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Na oportunidade fora distribuído aos participantes o artigo de Lênin "Por Onde Começar?" publicado no Iskra, n.º 4, maio de 1901. Nesse texto Lênin chama atenção para a necessidade de se definir um plano de atividades práticas, qualquer semelhança com os dias atuas não é uma simples coincidência, mas uma necessidade premente.

Estamos disponibilizando abaixo o atrigo "Por Onde Começar?" para que os camaradas leiam com atenção e ajude-nos a definir nossa forma de organização das lutas sociais que devemos implementa-las. Solicitamos que após a leitura cada camarada, faça um comentário sugerindo ideias de construção das tarefas do partido para aprofundar a luta popular.

Partido Socialismo e Liberdade – PSOL
Av. Constantino Nery, 1913, São Geraldo, Fone: (92) 33479621, E-mail: psol50am@gmail.com
 Manaus – Amazonas

Por onde começar?

Texto de Vladimir Ilitch Lênine, maio de 1901

Nestes últimos anos, a questão «que fazer?» tem-se posto com particular acuidade aos social-democratas russos. Já não se trata de escolher um caminho (como acontecia no fim dos anos 80 e começo dos anos 90) mas de determinar aquilo que devemos fazer, na prática, por um caminho conhecido, e de que maneira fazê-lo trata-se do sistema e do plano de actividade prática. É preciso confessar que esta questão – essencial para um partido de acção – relativa ao carácter e às formas de luta, continua sem solução e suscita ainda entre nós sérias divergências que são o testemunho duma instabilidade e de vacilações de pensamento deploráveis. Por um lado, a tendência «económica», que se empenha em truncar, em menosprezar o papel da organização e da agitação políticas, encontra-se longe de estar morta. Por outro lado, continua de pé a tendência do ecletismo sem princípios que se adapta a toda a nova «orientação» e é incapaz de distinguir entre as necessidades de momento e os fins essenciais e as exigências permanentes do movimento tomado no seu conjunto. Como se sabe, esta tendência criou raízes no «Rabotcheie Dielo». A sua última declaração de «programa», o retumbante artigo com o não menos retumbante título «Uma viragem histórica» (n.º6 do Listok do «Rabotcheie Dielo»), confirma de maneira gritante esta definição. Ainda ontem, galanteávamo-nos com o «economismo», indignávamo-nos com a condenação categórica feita contra o «Rabotchaia Mysl», «mitigávamos» a maneira pela qual Plekanov encarava a luta contra a autocracia; hoje, eis-nos citando já a frase de Liebknecht: «se as circunstâncias  mudam em 24 horas, é igualmente necessário em 24 horas mudar de táctica»; falamos já em criar uma «sólida organização de combate» para atacar de frente, para conduzir o assalto ao absolutismo; falamos já de fazer «uma larga agitação política revolucionária (aonde isto já vai: política e revolucionária ao mesmo tempo!) no seio das massas»; de lançar «um apelo incessante aos protestos de rua»; «de preparar manifestações públicas com carácter político bem marcado» (sic), etc., etc..

Nós poderíamos, é certo, exprimir a nossa satisfação por ver o «Rabotcheie Dielo» assimilar tão rapidamente o programa formulado por nós desde o primeiro número da «Iskra»: constituir um partido solidamente organizado, visando não somente arrancar concessões de pormenor, mas conquistar a própria fortaleza da autocracia. Todavia, a ausência nos nossos assimiladores, de todo e qualquer ponto de vista bem firme, é de natureza a estragar todo o nosso prazer.

O nome de Liebknecht, é, como se torna evidente, invocado sem razão pelo «Rabotcheie Dielo». Em 24 horas, pode-se modificar a táctica da agitação em qualquer ponto especial, modificar um pormenor qualquer na actividade do partido. Porém, para mudar – não direi em 24 horas, mas até mesmo em 24 meses – as concepções sobre a utilidade geral, permanente e absoluta duma organização de combate e duma agitação política entre as massas, é preciso estar-se destituído de todo o princípio directivo. É ridículo invocar a diversidade de circunstâncias, a mudança de períodos: a constituição duma organização de combate e a agitação política são obrigatórias não importa em que circunstâncias «ternas, pacíficas», não importa em que período de «declínio do espírito revolucionário». Muito pelo contrário, é precisamente em tais circunstâncias e em tais períodos que semelhante esforço é necessário, pois que no momento da explosão, da conflagração, é demasiado tarde para criar uma organização; ela deve estar já pronta, a fim de desenvolver imediatamente a sua actividade. «Mudar de táctica em 24 horas». Mas para mudá-la é preciso ter uma à partida. Ora, sem uma organização sólida, experimentada na luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se poderia sequer falar deste plano de acção sistemático estabelecido à luz de princípios firmes, seguido sem desfalecimento – o único que merece o nome de táctica. Com efeito, reparai: asseveram-nos já que o «momento histórico» coloca ao novo partido um problema «absolutamente novo» – o do terror. Ontem, o que era «absolutamente novo», era o problema da organização e da agitação políticas; hoje, é o do terror. Não é singular ouvir pessoas assim tão esquecidas dos seus antecedentes falar duma mudança radical de táctica?

Felizmente, o «Rabotcheie Dielo» não tem razão. O problema do terror nada tem de novo. Bastar-nos-á recapitular as concepções assentes pela social-democracia russa.

No plano dos princípios, nunca rejeitámos nem podemos rejeitar o terror. Ele é um dos aspectos da guerra, que pode convir perfeitamente, e até mesmo ser indispensável num certo momento de combate, num certo estado do exército e em certas condições. Porém, e precisamente agora, o que acontece é que não nos sugere o terror como uma das operações de um exército combatente, como uma operação estritamente ligada e articulada com todo o sistema da luta, mas como um meio de ataque isolado, independente de qualquer exército e bastando-se a si mesmo. De resto, na falta de uma organização revolucionária central e com organizações revolucionárias locais fracas, o terror não poderia ser outra coisa.

Eis porque nós declaramos resolutamente que, nas circunstâncias actuais, o terror é uma arma inoportuna, inoperante que desvia os combatentes mais activos da sua verdadeira tarefa e a mais importante para todo o movimento, e que desorganiza não as forças governamentais, mas sim as forças revolucionárias. Recordai-vos dos últimos acontecimentos: sob os nossos olhos, a grande massa dos operários e da «arraia-miúda» das cidades atirava-se ao combate, mas faltava aos revolucionários um estado-maior de dirigentes e de organizadores. Nestas condições, se os revolucionários mais enérgicos se consagram ao terror, não nos arriscamos nós a enfraquecer os destacamentos de combate, os únicos elementos sobre os quais se pode fundar uma esperança séria?

Não temos nos de temer uma ruptura de ligação entre as organizações revolucionárias e estas multidões dispersas de homens descontentes, protestando e prontos para o combate, cuja fraqueza não reside senão na sua dispersão? Ora esta ligação é a única garantia do novo êxito. Longe de nós a ideia de recusar toda a importância a actos heróicos isolados; porém, o nosso dever é, com toda a nossa energia, pôr em guarda contra esta codícia pelo terror à qual tanta gente se sente inclinada hoje em dia ao ponto de ver nele a nossa principal e essencial arma. O terror nunca será um acto de guerra igual aos outros, no melhor dos casos o terror não convém senão como uma das formas de assalto decisivo. A questão que se põe é esta: podemos no momento actual, apelar para este assalto? O «Rabotcheie Dielo» muito provavelmente pensa que sim. Pelo menos esganiça-se: «formai as colunas de assalto!». Mas aí está, mais uma vez, um zelo mal inspirado. O grosso das nossas colunas é constituído por voluntários e rebeldes. Como exército permanente, não temos senão alguns destacamentos, e ainda não se encontram mobilizados, não têm ligação entre si, não estão preparados para se constituírem em colunas duma maneira geral, sem mesmo falar em colunas de assalto. Nestas condições, qualquer homem capaz de considerar o conjunto da nossa luta, sem se deixar distrair com cada «viragem» da história, deve compreender que a nossa palavra de ordem, na hora actual, não poderá ser «Ao assalto!», mas sim, «Empreendamos o cerco sistemático da fortaleza inimiga!». Noutros termos, o objectivo imediato do nosso Partido não pode ser o de chamar todas forças de que dispõe a lançarem-se desde já ao ataque, apelar para a construção de uma organização revolucionária capaz de reunir todas as forças e que seja, não apenas nominalmente, mas também, de facto, a dirigente do movimento, isto é, uma organização sempre pronta a apoiar cada protesto e cada explosão, aproveitando-os para fazer crescer e fortalecer um exército apto a travar o combate decisivo.

A ligação dos acontecimentos de Fevereiro e de Março é tão sugestiva que não se encontra hoje absolutamente nenhuma objecção de princípio a esta conclusão. Somente que o que a hora presente exige de nós não são princípios, mas uma solução prática. Não basta ver claramente que tipo de organização é necessário, e para que é preciso trabalho; é preciso traçar-lhe o plano de modo a poder começar a sua construção de todos os lados, e ao mesmo tempo. Examinada a urgência e a importância desta questão, decidimo-nos, por nossa parte, submeter à atenção dos camaradas o esboço dum plano que desenvolveremos mais longamente numa brochura em preparação.

Na nossa opinião, o ponto de partida da nossa actividade, o primeiro passo concreto para a criação da organização desejada, o fio condutor, enfim que nos permitirá fazer progredir sem cessar esta organização em profundidade e em extensão, deve ser a fundação de um jornal político para toda a Rússia. Antes de mais, é-nos necessário um jornal, sem o que toda a propaganda e toda a agitação sistemáticas, fiéis aos princípios e abarcando os diversos aspectos da vida, são impossíveis. Essa é, portanto, a tarefa constante e essencial da social-democracia, tarefa particularmente premente hoje, em que o interesse pela política e pelo socialismo se tem despertado nas camadas mais amplas da população. Ainda nunca se tinha sentido com tanta força como hoje a necessidade de completar a agitação fragmentária pela acção pessoal, os panfletos e as brochuras editadas localmente, etc., por esta agitação generalizada e regular que só a imprensa periódica permite. Pode dizer-se, sem medo de exagerar, que a frequência e regularidade da publicação (e de difusão) do jornal permite avaliar da forma mais exacta o grau de organização atingido neste sector verdadeiramente primordial e essencial da nossa actividade militar. Seguidamente, é-nos necessário, muito precisamente, um jornal para toda a Rússia. Se nós não conseguirmos, e enquanto não conseguirmos, unificar a acção que exercemos sobre o povo e sobre o governo pela imprensa, será uma utopia pensar coordenar outros modos de acção mais complexos, mais difíceis, mas também mais decisivos. Aquilo de que o nosso movimento mais sofre, tanto no plano ideológico como no plano da prática, da organização, é de dispersão pelo facto de que a imensa maioria dos social-democratas está quase totalmente absorvida por ocupações puramente locais que estreitam ao mesmo tempo, o seu horizonte, a envergadura dos seus esforços, a sua experiência e a aptidão para a acção clandestina. É nesta dispersão que é preciso procurar as raízes mais profundas dessa instabilidade dessas vacilações de que falámos acima.

Também o primeiro passo a dar para escapar a este defeito, para fazer convergir vários movimentos locais num só movimento comum a toda a Rússia, deve ser a fundação de um jornal para toda a Rússia. Finalmente, é-nos absolutamente necessário um jornal político. Sem jornal político, na Europa moderna, não há movimento que possa merecer a qualificação de político. Sem isso, é impossível desempenharmos a nossa tarefa: concentrar todos os elementos de descontentamento e de protesto políticos para com eles fecundar o movimento revolucionário do proletariado. Demos o primeiro passo, suscitámos na classe operária a paixão pelas revelações «económicas», respeitantes à vida das fábricas. Devemos despertar, em todos os elementos minimamente conscientes da população, a paixão das revelações políticas. Não nos inquietemos se, na política, as vozes acusadoras são ainda tão débeis, tão raras, tão tímidas. A causa não reside, de modo algum, numa resignação geral ao arbítrio policial. A causa reside em que os homens capazes de acusar e dispostos a fazê-lo não têm uma tribuna do alto da qual possam falar, não têm um auditório que escute avidamente, encorajando os oradores, e em que eles não vêem em nenhuma parte do povo força à qual valha a pena dirigir as suas acusações contra o governo «todo-poderoso». Mas agora tudo isto muda com extrema rapidez. Essa força existe: é o proletariado revolucionário; ele já demonstrou a sua vontade não somente de ouvir e apoiar um apelo à luta política, mas ainda lançar-se arduamente na refrega. Temos hoje o meio e o dever de oferecer a todo o povo uma tribuna para condenar o governo czarista: essa tribuna deve ser um jornal social-democrata. A classe operária russa, ao contrário das outras classes e categorias da sociedade russa, manifesta um interesse premente pelos acontecimentos políticos e formula constantemente (e não apenas nos momentos de particular efervescência) uma enorme procura de publicações ilegais. Considerando esta procura massiva, a formação já iniciada de dirigentes revolucionários experimentados, o grau de concentração atingido pela classe operária e que lhe assegura de facto o controlo dos bairros operários das grandes cidades, dos centros fabris, dos burgos industriais, a fundação de um jornal político está perfeitamente ao alcance do proletariado. Por intermédio do proletariado o jornal penetrará entre a pequena burguesia das cidades, entre os artesãos dos campos e entre os camponeses e transformar-se-á, assim, num verdadeiro órgão político popular.

O jornal, contudo, não limita o seu papel à difusão das ideias, à educação política e ao recrutamento de aliados políticos. O jornal não é apenas um propagandista colectivo e um agitador colectivo; é também um organizador colectivo. A esse respeito, pode-se compará-lo aos andaimes que se levantam em redor de um edifício em construção; constitui o esboço dos contornos do edifício, facilita as comunicações entre os diferentes construtores, permitindo-lhes que repartam a tarefa e atinjam o conjunto dos resultados obtidos pelo trabalho organizado. Com a ajuda e a propósito do jornal, construir-se-á por si mesma uma organização permanente, que não se ocupará apenas de um trabalho local, mas também geral e regular, habituando os seus membros a seguir de perto os acontecimentos políticos, a apreciar-lhes o papel e influência sobre as diversas categorias da população, a encontrar para o partido revolucionário a melhor maneira de agir sobre esses acontecimentos. Os problemas técnicos – o fornecimento devidamente organizado de materiais ao jornal, a sua difusão – obrigam já a dispor de uma rede de agentes locais ao serviço de um único e mesmo partido, agentes mantendo relações pessoais uns com os outros, conhecendo a situação geral, exercitando-se a executar regularmente as diversas funções fragmentárias de um trabalho à escala de toda a Rússia, treinando-se na preparação desta ou daquela acção revolucionária. Esta rede de agentes[1] constituirá precisamente o esqueleto da organização que nos faz falta: suficientemente extensa para abarcar todo o país, suficientemente larga e diversificada para realizar uma divisão de trabalho estrita e pormenorizada; suficientemente firme para poder, em todas as circunstâncias, sejam quais forem as «viragens» e as surpresas, prosseguir sem desfalecimento a sua tarefa própria; suficientemente flexível para saber , à uma, evitar a batalha em campo aberto contra um inimigo numericamente superior que agrupou todas as suas forças num único ponto, e , à outra saber aproveitar-se da falta de mobilidade desse inimigo e cair sobre ele quando e onde ele menos o espera.Hoje, incumbe-nos a tarefa relativamente fácil de apoiar os estudantes que se manifestam nas ruas das grandes cidades, amanhã, a tarefa será talvez mais complexa, como será a de sustentar o movimento dos sem-trabalho nesta ou naquela região. Depois de amanhã deveremos estar nos nossos postos para desempenhar um papel revolucionário numa revolta camponesa. Hoje, devemos explorar a tensão política que foi engendrada pelo governo com a sua campanha contra os zemstvos. Amanhã, deveremos encorajar a cólera da população contra os abusos deste ou daquele bachibuzuque czarista e contribuir, com o boicote, com as campanhas de agitação, com as manifestações, etc., para lhes infligir uma lição que o faça, publicamente, bater em retirada. A fim de atingir este grau de preparação para o combate, é preciso a actividade permanente de um exército regular. E se agruparmos as nossas forças num jornal comum, veremos formar-se no trabalho e sair das fileiras não somente os mais hábeis propagandistas, mas também os mais experimentados organizadores, os mais capazes chefes políticos do Partido, que saberão, no momento preciso, lançar a palavra de ordem da luta final e assumir a direcção dela.

Como conclusão, duas palavras para evitar um possível mal-entendido, temos estado a falar de uma preparação sistemática, metódica, mas não quisemos de modo algum dizer com isso que a autocracia não possa cais senão na sequência de um cerco sistemático ou de um assalto organizado. Isso seria raciocinar como um doutrinário absurdo. Ao contrário, é possível e muito mais provável no plano histórico que ela caia sob o choque de uma explosão espontânea ou duma dessas complicações políticas imprevistas que a ameaçam constantemente de todos os lados. Mas não existe partido político, que possa, sem cair no espírito de aventura, regular a sua conduta com base em explosões e complicações hipotéticas. Devemos prosseguir um novo caminho, realizar incansavelmente o novo trabalho sistemático, e quanto menos nos basearmos no imprevisto, mais aumentarão as possibilidades de nunca sermos apanhados de surpresa pelas «viragens históricas».

Publicado no Iskra, n º 4, de Maio de 1901

PSOL Amazonas

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