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"Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte
iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena.
Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato
público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero Viver."
– Chico Mendes
Quantas homenagens foram feitas até hoje ao guerreiro Chico
Mendes? Não restam duvidas que foram tantas que sequer conseguimos enumera-las,
passado 25 anos de seu assassinato, Chico Mendes vive e é referencial para
ecologistas e sindicalistas, porém, poucos conseguem estudar seus princípios, propósitos e formulações que caracterizam sua filosofia. Na compreensão de Chico; “não
existe defesa da floresta, sem que o povo habitante das florestas, não estejam
educados e organizados”.
A primeira luz que Chico Mendes conheceu, foi a do sol e de sua
poronga, instrumento que usava para iluminar sua estrada nas madrugadas cortando seringa,
a utra luz que ele conheceu, foi encontrar aquele que seria o seu grande mestre,
Fernando Euclides Távora, que não só lhe ensinou a ler e a escrever, mas o
caminho que o levaria a se interessar pelos destinos do planeta e da humanidade.
Chico Mendes é considerado por estudiosos da ecologia e do
socialismo, como um dos grandes Ecossocialista da atualidade, os empates que organizava,
é uma obra que precisa ser estudada em profundidade. Hoje quando estudamos seu
legado, particularmente entendo que precisamos dar continuidade a essa luta
contra a ganancia do capital e a intolerância dos capitalistas, a floresta
chora Chico Mendes e arrepia nossos poros que continuam a clamar por justiça.
Em homenagem a Chico Mendes, compartilho com os novos defensores da
floresta e do nosso rico ecossistema Amazônicos, o Manifesto Ecossocialista,
publicado 12 anos após a morte de Chico Mendes.
Chico Mendes vive!
A floreta ainda vive.
E, nós refirmamos a luta de Chico Mendes em defesa das floretas!
Elson de Melo – Presidente do PSOL/AM
Confira abaixo o Manifesto Ecossocialista__________________________________
Primeiro Manifesto Ecossocialista
Por Joel Kovel e Michael Lowy (Setembro 2001)
O século XXI se inicia com uma nota catastrófica, com um grau sem
precedentes de desastres ecológicos e uma ordem mundial caótica, cercada por
terror e focos de guerras localizadas e desintegradoras, que se espalham como
uma gangrena pelos grandes troncos do planeta África Central, Oriente Médio,
América do Sul e do Norte , ecoando por todas as nações.
Na nossa visão, as crises ecológicas e o colapso social estão
profundamente relacionados e deveriam ser vistos como manifestações diferentes
das mesmas forças estruturais. As primeiras derivam, de uma maneira geral, da
industrialização massiva, que ultrapassou a capacidade da Terra absorver e
conter a instabilidade ecológica. O segundo deriva da forma de imperialismo
conhecida como globalização, com seus efeitos desintegradores sobre as sociedades
que se colocam em seu caminho. Ainda, essas forças subjacentes são
essencialmente diferentes aspectos do mesmo movimento, devendo ser
identificadas como a dinâmica central que move o todo: a expansão do sistema
capitalista mundial.
Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda que suavizem a
brutalidade do sistema: todo mascaramento de seus custos ecológicos, toda
mistificação dos custos humanos sob os nomes de democracia e direitos humanos.
Ao contrário, insistimos em enxergar o capital a partir daquilo que ele
realmente fez.
Agindo sobre a natureza e seu equilíbrio ecológico, o sistema, com
seu imperativo de expansão constante da lucratividade, expõe ecossistemas a
poluentes desestabilizadores, fragmenta habitats que evoluíram milhões de anos
de modo a permitir o surgimento de organismos, dilapida recursos, e reduz a
vitalidade sensual da natureza às frias trocas necessárias à acumulação de
capital.
Do lado da humanidade, com suas exigências de autodeterminação,
comunidade e existência plena de sentido, o capital reduz a maioria das pessoas
do mundo a mero reservatório de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que descarta os
considerados inúteis. O capital invadiu e minou a integridade das comunidades
por meio de uma cultura de massas global de consumismo e despolitização. Ele
expandiu as disparidades de riqueza e de poder em níveis sem precedentes na
história. Trabalhou lado a lado com uma rede de Estados corruptos e
subservientes, cujas elites locais, poupando o centro, executam o trabalho de
repressão. O capital também colocou em funcionamento, sob a supervisão das
potências ocidentais e da superpotência norte-americana, uma rede de
organizações trans-estatais destinada a minar a autonomia da periferia,
atando-a às suas dívidas enquanto mantém um enorme aparato militar que força a
obediência ao centro capitalista.
Nós entendemos que o atual sistema capitalista não pode regular,
muito menos superar, as crises que deflagrou. Ele não pode resolver a crise
ecológica porque fazê-lo implica em colocar limites ao processo de acumulação
uma opção inaceitável para um sistema baseado na regra “cresça ou morra!”.
Tampouco ele pode resolver a crise posta pelo terror ou outras formas de
rebelião violenta, porque fazê-lo significaria abandonar a lógica do império,
impondo limites inaceitáveis ao crescimento e ao “estilo de vida” sustentado
pelo império. Sua única opção é recorrer à força bruta, incrementando a
alienação e semeando mais terrorismo e contra-terrorismo, gerando assim uma
nova variante de fascismo.
Em suma, o sistema capitalista mundial está historicamente falido.
Tornou-se um império incapaz de se adaptar, cujo gigantismo expõe sua fraqueza
subjacente. O sistema capitalista mundial é, na linguagem da ecologia,
profundamente insustentável e, para que haja futuro, deve ser fundamentalmente
transformado ou substituído.
É dessa forma que retornamos à dura escolha apresentada por Rosa
Luxemburgo: “Socialismo ou Barbárie!”, em que a face da última está impressa
neste século que se inicia na forma de eco-catástrofe, terror e contra-terror e
sua degeneração fascista.
Mas por que socialismo, por que reviver esta palavra aparentemente
consignada ao lixo da história pelos equívocos de suas interpretações no século
XX? Por uma única razão: embora castigada e não realizada, a noção de socialismo
ainda permanece atual para a superação do capital. Se o capital deve ser
superado, uma tarefa dada como urgente considerando a própria sobrevivência da
civilização, o resultado será necessariamente “socialista”, pois esse é o termo
que designa a passagem a uma sociedade pós-capitalista.
Se dizemos que o capital é radicalmente insustentável e se
degenera em barbárie, delineada acima, então estamos também dizendo que
precisamos construir um “socialismo” capaz de superar as crises que o capital
iniciou. E se os “socialismos” do passado falharam nisso, é nosso dever, se
escolhemos um fim outro que não a barbárie, lutar por um socialismo que
triunfe. Da mesma forma que a barbárie mudou desde os tempos em que Rosa
Luxemburgo enunciou sua profética alternativa, também o nome e a realidade do
“socialismo” devem ser adequados aos tempos atuais.
É por essas razões que escolhemos nomear nossa interpretação de
“socialismo” como um ecossocialismo, e nos dedicar à sua realização.
Por que Ecossocialismo?
Entendemos o ecossocialismo não como negação, mas como realização
dos socialismos da “primeira época” do século vinte, no contexto da crise
ecológica. Como seus antecessores, o ecossocialismo se baseia na visão de que
capital é trabalho passado reificado, e se fortalece a partir do livre
desenvolvimento de todos os produtores, ou em outras palavras, a partir da não
separação entre produtores e meios de produção.
Entendemos que essa meta não teve sua implementação possível no
socialismo da “primeira época”. As razões dessa impossibilidade são
demasiadamente complexas para serem aqui rapidamente abordadas, cabendo,
entretanto, mencionar os diversos efeitos do subdesenvolvimento no contexto de
hostilidade por parte das potências capitalistas. Essa conjuntura teve efeitos
nefastos sobre os socialismos existentes, principalmente no que ser refere à
negação da democracia interna associada à apologia do produtivismo capitalista,
o que conduziu ao colapso dessas sociedades e à ruína de seus ambientes
naturais.
O ecossocialismo retém os objetivos emancipatórios do socialismo
da “primeira época”, ao mesmo tempo em que rejeita tanto os objetivos
reformistas da social-democracia quanto às estruturas produtivistas das
variações burocráticas do socialismo. O ecossocialismo insiste em redefinir a
trajetória e objetivo da produção socialista em um contexto ecológico. Ele o
faz especificamente em relação aos “limites ao crescimento”, essencial para a
sustentabilidade da sociedade. Isso sem, no entanto, impor escassez, sofrimento
ou repressão à sociedade. O objetivo é a transformação das necessidades, uma
profunda mudança de dimensão qualitativa, não quantitativa. Do ponto de vista
da produção de mercadorias, isso se traduz em uma valorização dos valores de
uso em detrimento dos valores de troca um projeto de relevância de longo prazo
baseado na atividade econômica imediata.
A generalização da produção ecológica sob condições socialistas
pode fornecer a base para superação das crises atuais. Uma sociedade de
produtores livremente associados não cessa sua própria democratização. Ela deve
insistir em libertar todos os seres humanos como seu objetivo e fundamento. Ela
supera assim o impulso imperialista subjetiva e objetivamente. Ao realizar tal
objetivo, essa sociedade luta para superar todas as formas de dominação,
incluindo, especialmente, aquelas de gênero e raça. Ela supera as condições que
conduzem a distorções fundamentalistas e suas manifestações terroristas. Em
síntese, essa sociedade se coloca em harmonia ecológica com a natureza em um
grau impensável sob as condições atuais.
Um resultado prático dessas tendências poderia se expressar, por
exemplo, no desaparecimento da dependência de combustíveis fósseis
característica do capitalismo industrial , que, por sua vez, poderia fornecer a
base material para o resgate das terras subjugadas pelo imperialismo do
petróleo, ao mesmo tempo em que possibilitaria a contenção do aquecimento
global e de outras aflições da crise ecológica.
Ninguém pode ler estas recomendações sem pensar primeiro em
quantas questões práticas e teóricas elas suscitam e, segundo e mais
desesperançosamente, em quão remotas elas são em relação à atual configuração
do mundo, tanto no que se refere ao que está baseado nas instituições quanto no
que está registrado nas consciências. Não precisamos elaborar estes pontos, os
quais deveriam ser instantaneamente reconhecidos por todos. Mas insistimos que
eles devem ser tomados na perspectiva adequada. Nosso projeto não é nem
detalhar cada passo deste caminho nem se render ao adversário devido à
preponderância do poder que ostenta. Nosso projeto consiste em desenvolver a
lógica de uma suficiente e necessária transformação da atual ordem e começar a
dar os passos intermediários em direção a esse objetivo. O fazemos para pensar
mais profundamente nessas possibilidades e, ao mesmo tempo, iniciar o trabalho
de reunir aqueles de idéias semelhantes. Se existe algum mérito nesses
argumentos, então ele precisa servir para que práticas e visões semelhantes
germinem de maneira coordenada em diversos pontos do globo. O ecossocialismo
será universal e internacional, ou não será. As crises de nosso tempo podem e
devem ser vistas como oportunidades revolucionárias, e como tal temos o dever
de afirmá-las e concretizá-las.
Fonte: EcosSocialistas