A
ZH, parlamentar disse que reforma agrária e tarifa zero no transporte serão
suas bandeiras
Carlos
Rollsing
|
Oposição ao PT, Randolfe se
destaca pela retórica e pelo perfil combatente
Foto: Fabio Rodrigues
Pozzebom /Agência Brasil,divulgação
|
De
atuação enérgica no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) já se
mostrou capaz de causar incômodos ao governo. Oposição ao governo Dilma
Rousseff, se destaca pela retórica e pelo perfil combatente.
Mas
já causou polêmica em seu partido ao se aproximar do DEM nas eleições de 2012
para a prefeitura de Macapá, o que levou a ser rotulado como líder da “ala
light” do PSOL.
Atento
aos direitos humanos e às reivindicações populares, agora é candidato à
Presidência, após ter derrotado a ex-deputada gaúcha Luciana Genro na
pré-convenção da sigla. A ZH, indica que a reforma agrária e a tarifa zero no
transporte, subsidiada por aumento de imposto, serão suas bandeiras.
Zero
Hora — Quais serão os eixos da sua campanha?
Randolfe
Rodrigues — Pensamos em uma campanha identificada com o que veio das ruas, com
as reivindicações de junho. Existe uma pauta de direitos sendo clamada pelo
povo. E isso não está sendo satisfeito pelos governos, especialmente o federal.
As outras candidaturas colocadas (Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos)
se preocupam mais em agradar ao mercado, aos financiadores, do que atender os
investimentos em saúde, educação, mobilidade e reforma agrária.
ZH
— O PSOL, que esteve na origem de algumas manifestações, como no caso de Porto
Alegre, tentará se apresentar como um dos propulsores dos movimentos de junho?
Randolfe
— Ninguém pode ter a arrogância de se dizer titular das mobilizações. Ninguém
pode se apoderar. Aqueles que acham que o mais importante são as obras
monumentais da Copa, creio que não poderão falar em nome do que ocorreu no
Brasil.
"As
mobilizações de junho foram muito maiores do que qualquer partido. Na campanha
presidencial, vamos ver quem terá legitimidade para falar" — Randolfe
Rodrigues.
ZH
— O senhor apresentará propostas reivindicadas nas manifestações, como
transporte gratuito?
Randolfe
— O passe livre é exequível. O problema é que a presidenta disse que queria
dialogar com as manifestações e, depois, esqueceu. Qual é a lógica dessa
proposta? Quem tem mais, paga aos que têm menos. É a proposta de inversão no
IPTU. A União pode fazer isso? Não. Mas pode induzir a isso. Falei a presidenta
que ela tinha de enfrentar a máfia do transporte coletivo.
ZH
— Para adotar a tarifa zero, o senhor sugere aumento de IPTU?
Randolfe
— Precisaria de uma política progressiva. Isso é uma medida adotada na Europa.
Os locais da cidade de melhores condições aportam recursos para que quem tem
menos condições possa ter transporte coletivo.
ZH
— Como avalia os movimentos de Eduardo Campos e Marina Silva, que se apresentam
como novidade em uma terceira via?
Randolfe
— O Eduardo, com todo o respeito, não é o novo. O partido do Eduardo está na
política desde 1946. O avô (Miguel Arraes) representa um setor da política que
existe desde a época da ditadura. O Eduardo e o PSB estiveram na coalizão que
governa o país. Ele poderia ter feito essa ruptura com o governo (Dilma) há
mais tempo. A maior parte do partido dele está com o agronegócio, votou contra
o código florestal no Congresso.
"A
Marina, se refletisse um pouco mais, deveria votar na gente, votar em mim. Eu
que estive no Congresso defendendo um código florestal verdadeiro. O novo nessa
eleição é o PSOL" — Randolfe Rodrigues.
ZH
— O PSOL, por vezes, é apontado como partido que quebraria a economia
justamente pelo discurso radical contra setores que representam importante
fatia do PIB, como o agronegócio. Como avalia?
Randolfe
— Essa turma leva o Brasil a estar há 20 anos sob a maior taxa de juros do
planeta, as famílias a serem as mais endividadas da America Latina. A taxa de
juro está nos levando a reprimarização da economia. Temos uma pauta de
exportações que é a mesma dos anos 1960. Estamos nos transformando em uma
enorme fazenda de soja em vez de sermos potência industrializada. E somos nós
que vamos transformar o Brasil em um país economicamente ingovernável? São eles
que estão fazendo isso. Queremos que o país volte a ser um exportador de
produtos manufaturados.
ZH
— Para enfrentar a inflação, qual seria o remédio adequado?
Randolfe
— Primeiro, baixar os juros. Outro mecanismo é fazer a reforma agrária. Parte
da inflação é causada pelo preço dos alimentos. Não podemos ser o país do
latifúndio. O produto tem de chegar à mesa sem especulação. A América toda já
fez a reforma agrária. Só aqui neste país que não foi feito. Só o presidente
gaúcho chamado João Goulart teve coragem de anunciar. E por isso foi golpeado.
Tem de ter a coragem do Jango, que disse que os latifúndios improdutivos à
beira de estrada estavam desapropriados.
ZH
— A sua reforma agrária seria com pagamento de indenização?
Randolfe
— Vou cumprir o que está na Constituição, que reza claramente: a terra tem de
cumprir seu papel social.
ZH
— Como avalia o conflito entre índios e pequenos agricultores pela demarcação
de terras?
Randolfe
— Enquanto o governo não olhar a questão indígena com a prioridade que merece,
o conflito vai existir. O governo tenta acender uma vela a dois senhores. Não
se serve a dois senhores. Eles (índios) são senhores de direitos e não
coitadinhos aos quais se concedem favores.
ZH
— O senhor tem atuado com o senador Pedro Simon (PMDB-RS), sobretudo no projeto
que anulou a sessão que derrubou Jango. Como tem sido essa convivência?
Randolfe
— Simon é farol que me ilumina. Inspira desde o meu pai, que se espelhava na
atuação dele como deputado no RS. Quando cheguei ao Congresso, tive a honra de
ter o voto do Simon como candidato à Presidência do Senado contra José Sarney
(PMDB-AP). Construímos uma relação. Uma das coisas que vou ter o prazer de
contar aos netos é sobre a convivência com Simon.
ZH
— O senhor recebeu duras críticas, inclusive no PSOL, porque o seu candidato à
prefeitura de Macapá teve, em 2012, apoio do DEM no segundo turno. Admite que
houve incoerência?
Randolfe
— Não existiu apoio do DEM a nossa candidatura. Existiu o apoio do candidato a
prefeito do DEM (que foi derrotado no primeiro turno) ao nosso candidato, no
segundo turno. O DEM, enquanto partido, esteve no palanque do adversário. São
descolamentos das pessoas para apoiar personalidades de esquerda. Não existiu
apoio do DEM. Quero deixar claro.
ZH
— A Luciana Genro será candidata a vice na sua chapa?
Randolfe
— Quero unir o PSOL e a esquerda. Lamentavelmente, a Luciana não é mais
deputada. Vou ficar muito feliz se tiver competência política para construir a
chapa com ela. Seria o melhor ao partido e à esquerda. E vamos conversar com
PSTU e PCB.
ZH
— Qual será o seu posicionamento diante da Copa no Brasil?
Randolfe
— Vou torcer para o Brasil, mas vou questionar muito os investimentos. Como
pode ter capacidade para fazer estádios monumentais em tão pouco tempo? Também
devemos ter a mesma capacidade para fazer em educação, saúde e mobilidade
urbana. É isso que reclama o povo. E quero questionar outras coisas, como a
facilidade que prestamos a entidades suspeitas como FIFA e CBF. Acho
inaceitável. O governo apoia a CBF.
"Como
pode ter capacidade para fazer estádios monumentais em tão pouco tempo? Também
devemos ter a mesma capacidade para fazer em educação, saúde e mobilidade
urbana" — Randolfe Rodrigues.
ZH
— O senhor crê que a Copa organizará nova agenda de protestos? Poderá impactar
nas eleições?
Randolfe
— Torço pela capacidade de mobilização do povo sempre. Só uma sociedade
mobilizada por direitos é que pode construir um país melhor. A Copa pode ser um
catalizador de mobilizações, sim, mas a sociedade precisa se mobilizar pelos
direitos que não estão sendo garantidos.