O Congresso estadual do PSOL de
São Paulo realizado neste final de semana elegeu para presidir o seu diretório
estadual Josélício Junior, mais conhecido como Juninho, liderança do movimento
negro e dirigente do Círculo Palmarino, entidade que congrega militantes
anti-racistas em todo o Brasil e cuja sede é em Embu das Artes (SP).
Foi um fato de grande importância
histórica para a luta contra o racismo pois pela primeira vez um partido
político será dirigido por um militante do movimento negro. Mais ainda: um
militante da nova geração de ativistas anti-racistas, que tem pautado sua ação
política pela denúncia do genocídio da juventude negra – Juninho teve papel
fundamental na Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Federal que
investigou a violência contra jovens negros e que, no relatório final,
reconheceu a existência do genocídio – pela formulação do conceito de “faxina
étnica” na configuração dos espaços urbanos ao constatar que há um processo de
isolamento, guetificação e repressão brutal das periferias, e criticado a
excessiva institucionalização de determinadas lideranças do movimento negro que
se contentaram em ocupar as franjas dos espaços governamentais, em que
secretarias, conselhos e outros órgãos criados para tratar de políticas
públicas de combate ao racismo vivem com orçamentos pífios e com pouquíssima
capacidade de ação.
Qual a importância da eleição de
Juninho para presidir um partido de esquerda e que vem crescendo nos últimos
anos? Primeiro, o reconhecimento público da importância da militância no
movimento negro, tradicionalmente colocado como um “patinho feio” junto a
outros movimentos, como o estudantil, sindical e popular. Haja vista a total
inexistência de parlamentares federais que vieram deste tipo de movimento (os
poucos parlamentares negros existentes hoje vieram de outros movimentos ou articulações
e não do movimento negro). Segundo, a possibilidade concreta de que a luta
contra o racismo será colocada no centro da agenda deste partido, o que
contribuirá para que esta temática ganhe maior visibilidade na esfera pública
política. E terceiro, que esta discussão seja extremamente qualificada pois
Juninho não é só mais um militante do movimento negro mas um verdadeiro quadro
que tem se esforçado em inovar na elaboração teórica da temática das relações
raciais no Brasil. É um grande estudioso do grande pensador Clóvis Moura,
articulou a reflexão sobre o racismo na Fundação Lauro Campos (do PSOL) que
lançou uma revista especial com artigos sobre este tema.
Por isto, este fato não é algo
que tenha importância apenas para o PSOL e seus simpatizantes, mas uma
verdadeira vitória do movimento negro. O flyer acima tem razão que é uma
resposta a ofensiva conservadora que cresce no país. Boa sorte, Juninho.