Na última quinta-feira
(30/10), o PSOL Amazonas promoveu um debate sobre a obra de Lênin “Que Fazer?”,
para orientar o debate foi exibido um vídeo produzido pela Livraria Expressão
Popular "Debate - Que fazer?, Lenin" com participação de Ricardo Gebrim (Consulta Popular) e José Paulo
Netoo (UFRJ).
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Estamos disponibilizando
abaixo o atrigo "Por Onde Começar?" para que os camaradas leiam com
atenção e ajude-nos a definir nossa forma de organização das lutas sociais que
devemos implementa-las. Solicitamos que após a leitura cada camarada, faça um
comentário sugerindo ideias de construção das tarefas do partido para
aprofundar a luta popular.
Partido
Socialismo e Liberdade – PSOL
Av.
Constantino Nery, 1913, São Geraldo, Fone: (92) 33479621, E-mail:
psol50am@gmail.com
Manaus – Amazonas
Por onde começar?
Texto de Vladimir Ilitch Lênine,
maio de 1901
Nestes
últimos anos, a questão «que fazer?» tem-se posto com particular acuidade aos
social-democratas russos. Já não se trata de escolher um caminho (como
acontecia no fim dos anos 80 e começo dos anos 90) mas de determinar aquilo que
devemos fazer, na prática, por um caminho conhecido, e de que maneira fazê-lo
trata-se do sistema e do plano de actividade prática. É preciso confessar que
esta questão – essencial para um partido de acção – relativa ao carácter e às
formas de luta, continua sem solução e suscita ainda entre nós sérias divergências
que são o testemunho duma instabilidade e de vacilações de pensamento
deploráveis. Por um lado, a tendência «económica», que se empenha em truncar,
em menosprezar o papel da organização e da agitação políticas, encontra-se
longe de estar morta. Por outro lado, continua de pé a tendência do ecletismo
sem princípios que se adapta a toda a nova «orientação» e é incapaz de distinguir entre as
necessidades de momento e os fins essenciais e as exigências permanentes do
movimento tomado no seu conjunto. Como se sabe, esta tendência criou raízes no
«Rabotcheie Dielo». A sua última declaração de «programa», o retumbante artigo
com o não menos retumbante título «Uma viragem histórica» (n.º6 do Listok do
«Rabotcheie Dielo»), confirma de maneira gritante esta definição. Ainda ontem,
galanteávamo-nos com o «economismo», indignávamo-nos com a condenação
categórica feita contra o «Rabotchaia Mysl», «mitigávamos» a maneira pela qual
Plekanov encarava a luta contra a autocracia; hoje, eis-nos citando já a frase
de Liebknecht: «se as circunstâncias
mudam em 24 horas, é igualmente necessário em 24 horas mudar de
táctica»; falamos já em criar uma «sólida organização de combate» para atacar
de frente, para conduzir o assalto ao absolutismo; falamos já de fazer «uma
larga agitação política revolucionária (aonde isto já vai: política e
revolucionária ao mesmo tempo!) no seio das massas»; de lançar «um apelo
incessante aos protestos de rua»; «de preparar manifestações públicas com
carácter político bem marcado» (sic), etc., etc..
Nós
poderíamos, é certo, exprimir a nossa satisfação por ver o «Rabotcheie Dielo»
assimilar tão rapidamente o programa formulado por nós desde o primeiro número
da «Iskra»: constituir um partido solidamente organizado, visando não somente
arrancar concessões de pormenor, mas conquistar a própria fortaleza da
autocracia. Todavia, a ausência nos nossos assimiladores, de todo e qualquer
ponto de vista bem firme, é de natureza a estragar todo o nosso prazer.
O
nome de Liebknecht, é, como se torna evidente, invocado sem razão pelo
«Rabotcheie Dielo». Em 24 horas, pode-se modificar a táctica da agitação em
qualquer ponto especial, modificar um pormenor qualquer na actividade do
partido. Porém, para mudar – não direi em 24 horas, mas até mesmo em 24 meses –
as concepções sobre a utilidade geral, permanente e absoluta duma organização
de combate e duma agitação política entre as massas, é preciso estar-se
destituído de todo o princípio directivo. É ridículo invocar a diversidade de
circunstâncias, a mudança de períodos: a constituição duma organização de
combate e a agitação política são obrigatórias não importa em que
circunstâncias «ternas, pacíficas», não importa em que período de «declínio do
espírito revolucionário». Muito pelo contrário, é precisamente em tais
circunstâncias e em tais períodos que semelhante esforço é necessário, pois que
no momento da explosão, da conflagração, é demasiado tarde para criar uma
organização; ela deve estar já pronta, a fim de desenvolver imediatamente a sua
actividade. «Mudar de táctica em 24 horas». Mas para mudá-la é preciso ter uma
à partida. Ora, sem uma organização sólida, experimentada na luta política em
todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se poderia sequer falar
deste plano de acção sistemático estabelecido à luz de princípios firmes,
seguido sem desfalecimento – o único que merece o nome de táctica. Com efeito,
reparai: asseveram-nos já que o «momento histórico» coloca ao novo partido um
problema «absolutamente novo» – o do terror. Ontem, o que era «absolutamente
novo», era o problema da organização e da agitação políticas; hoje, é o do
terror. Não é singular ouvir pessoas assim tão esquecidas dos seus antecedentes
falar duma mudança radical de táctica?
Felizmente,
o «Rabotcheie Dielo» não tem razão. O problema do terror nada tem de novo.
Bastar-nos-á recapitular as concepções assentes pela social-democracia russa.
No
plano dos princípios, nunca rejeitámos nem podemos rejeitar o terror. Ele é um
dos aspectos da guerra, que pode convir perfeitamente, e até mesmo ser
indispensável num certo momento de combate, num certo estado do exército e em
certas condições. Porém, e precisamente agora, o que acontece é que não nos
sugere o terror como uma das operações de um exército combatente, como uma
operação estritamente ligada e articulada com todo o sistema da luta, mas como
um meio de ataque isolado, independente de qualquer exército e bastando-se a si
mesmo. De resto, na falta de uma organização revolucionária central e com
organizações revolucionárias locais fracas, o terror não poderia ser outra
coisa.
Eis porque nós declaramos resolutamente que,
nas circunstâncias actuais, o terror é uma arma inoportuna, inoperante que
desvia os combatentes mais activos da sua verdadeira tarefa e a mais importante
para todo o movimento, e que desorganiza não as forças governamentais, mas sim
as forças revolucionárias. Recordai-vos dos últimos acontecimentos: sob os
nossos olhos, a grande massa dos operários e da «arraia-miúda» das cidades
atirava-se ao combate, mas faltava aos revolucionários um estado-maior de
dirigentes e de organizadores. Nestas condições, se os revolucionários mais
enérgicos se consagram ao terror, não nos arriscamos nós a enfraquecer os
destacamentos de combate, os únicos elementos sobre os quais se pode fundar uma
esperança séria?
Não
temos nos de temer uma ruptura de ligação entre as organizações revolucionárias
e estas multidões dispersas de homens descontentes, protestando e prontos para
o combate, cuja fraqueza não reside senão na sua dispersão? Ora esta ligação é
a única garantia do novo êxito. Longe de nós a ideia de recusar toda a
importância a actos heróicos isolados; porém, o nosso dever é, com toda a nossa
energia, pôr em guarda contra esta codícia pelo terror à qual tanta gente se
sente inclinada hoje em dia ao ponto de ver nele a nossa principal e essencial
arma. O terror nunca será um acto de guerra igual aos outros, no melhor dos
casos o terror não convém senão como uma das formas de assalto decisivo. A
questão que se põe é esta: podemos no momento actual, apelar para este assalto?
O «Rabotcheie Dielo» muito provavelmente pensa que sim. Pelo menos esganiça-se:
«formai as colunas de assalto!». Mas aí está, mais uma vez, um zelo mal
inspirado. O grosso das nossas colunas é constituído por voluntários e
rebeldes. Como exército permanente, não temos senão alguns destacamentos, e
ainda não se encontram mobilizados, não têm ligação entre si, não estão
preparados para se constituírem em colunas duma maneira geral, sem mesmo falar
em colunas de assalto. Nestas condições, qualquer homem capaz de considerar o
conjunto da nossa luta, sem se deixar distrair com cada «viragem» da história,
deve compreender que a nossa palavra de ordem, na hora actual, não poderá ser
«Ao assalto!», mas sim, «Empreendamos o cerco sistemático da fortaleza
inimiga!». Noutros termos, o objectivo imediato do nosso Partido não pode ser o
de chamar todas forças de que dispõe a lançarem-se desde já ao ataque, apelar
para a construção de uma organização revolucionária capaz de reunir todas as
forças e que seja, não apenas nominalmente, mas também, de facto, a dirigente
do movimento, isto é, uma organização sempre pronta a apoiar cada protesto e
cada explosão, aproveitando-os para fazer crescer e fortalecer um exército apto
a travar o combate decisivo.
A
ligação dos acontecimentos de Fevereiro e de Março é tão sugestiva que não se
encontra hoje absolutamente nenhuma objecção de princípio a esta conclusão.
Somente que o que a hora presente exige de nós não são princípios, mas uma
solução prática. Não basta ver claramente que tipo de organização é necessário,
e para que é preciso trabalho; é preciso traçar-lhe o plano de modo a poder
começar a sua construção de todos os lados, e ao mesmo tempo. Examinada a
urgência e a importância desta questão, decidimo-nos, por nossa parte, submeter
à atenção dos camaradas o esboço dum plano que desenvolveremos mais longamente
numa brochura em preparação.
Na
nossa opinião, o ponto de partida da nossa actividade, o primeiro passo
concreto para a criação da organização desejada, o fio condutor, enfim que nos
permitirá fazer progredir sem cessar esta organização em profundidade e em
extensão, deve ser a fundação de um jornal político para toda a Rússia. Antes
de mais, é-nos necessário um jornal, sem o que toda a propaganda e toda a
agitação sistemáticas, fiéis aos princípios e abarcando os diversos aspectos da
vida, são impossíveis. Essa é, portanto, a tarefa constante e essencial da
social-democracia, tarefa particularmente premente hoje, em que o interesse pela
política e pelo socialismo se tem despertado nas camadas mais amplas da
população. Ainda nunca se tinha sentido com tanta força como hoje a necessidade
de completar a agitação fragmentária pela acção pessoal, os panfletos e as
brochuras editadas localmente, etc., por esta agitação generalizada e regular
que só a imprensa periódica permite. Pode dizer-se, sem medo de exagerar, que a
frequência e regularidade da publicação (e de difusão) do jornal permite
avaliar da forma mais exacta o grau de organização atingido neste sector
verdadeiramente primordial e essencial da nossa actividade militar.
Seguidamente, é-nos necessário, muito precisamente, um jornal para toda a
Rússia. Se nós não conseguirmos, e enquanto não conseguirmos, unificar a acção
que exercemos sobre o povo e sobre o governo pela imprensa, será uma utopia
pensar coordenar outros modos de acção mais complexos, mais difíceis, mas
também mais decisivos. Aquilo de que o nosso movimento mais sofre, tanto no
plano ideológico como no plano da prática, da organização, é de dispersão pelo
facto de que a imensa maioria dos social-democratas está quase totalmente
absorvida por ocupações puramente locais que estreitam ao mesmo tempo, o seu
horizonte, a envergadura dos seus esforços, a sua experiência e a aptidão para
a acção clandestina. É nesta dispersão que é preciso procurar as raízes mais
profundas dessa instabilidade dessas vacilações de que falámos acima.
Também
o primeiro passo a dar para escapar a este defeito, para fazer convergir vários
movimentos locais num só movimento comum a toda a Rússia, deve ser a fundação
de um jornal para toda a Rússia. Finalmente, é-nos absolutamente necessário um
jornal político. Sem jornal político, na Europa moderna, não há movimento que
possa merecer a qualificação de político. Sem isso, é impossível desempenharmos
a nossa tarefa: concentrar todos os elementos de descontentamento e de protesto
políticos para com eles fecundar o movimento revolucionário do proletariado.
Demos o primeiro passo, suscitámos na classe operária a paixão pelas revelações
«económicas», respeitantes à vida das fábricas. Devemos despertar, em todos os
elementos minimamente conscientes da população, a paixão das revelações
políticas. Não nos inquietemos se, na política, as vozes acusadoras são ainda tão
débeis, tão raras, tão tímidas. A causa não reside, de modo algum, numa
resignação geral ao arbítrio policial. A causa reside em que os homens capazes
de acusar e dispostos a fazê-lo não têm uma tribuna do alto da qual possam
falar, não têm um auditório que escute avidamente, encorajando os oradores, e
em que eles não vêem em nenhuma parte do povo força à qual valha a pena dirigir
as suas acusações contra o governo «todo-poderoso». Mas agora tudo isto muda
com extrema rapidez. Essa força existe: é o proletariado revolucionário; ele já
demonstrou a sua vontade não somente de ouvir e apoiar um apelo à luta
política, mas ainda lançar-se arduamente na refrega. Temos hoje o meio e o
dever de oferecer a todo o povo uma tribuna para condenar o governo czarista: essa
tribuna deve ser um jornal social-democrata. A classe operária russa, ao
contrário das outras classes e categorias da sociedade russa, manifesta um
interesse premente pelos acontecimentos políticos e formula constantemente (e
não apenas nos momentos de particular efervescência) uma enorme procura de
publicações ilegais. Considerando esta procura massiva, a formação já iniciada
de dirigentes revolucionários experimentados, o grau de concentração atingido
pela classe operária e que lhe assegura de facto o controlo dos bairros
operários das grandes cidades, dos centros fabris, dos burgos industriais, a
fundação de um jornal político está perfeitamente ao alcance do proletariado.
Por intermédio do proletariado o jornal penetrará entre a pequena burguesia das
cidades, entre os artesãos dos campos e entre os camponeses e transformar-se-á,
assim, num verdadeiro órgão político popular.
O
jornal, contudo, não limita o seu papel à difusão das ideias, à educação
política e ao recrutamento de aliados políticos. O jornal não é apenas um
propagandista colectivo e um agitador colectivo; é também um organizador
colectivo. A esse respeito, pode-se compará-lo aos andaimes que se levantam em
redor de um edifício em construção; constitui o esboço dos contornos do
edifício, facilita as comunicações entre os diferentes construtores,
permitindo-lhes que repartam a tarefa e atinjam o conjunto dos resultados
obtidos pelo trabalho organizado. Com a ajuda e a propósito do jornal,
construir-se-á por si mesma uma organização permanente, que não se ocupará
apenas de um trabalho local, mas também geral e regular, habituando os seus
membros a seguir de perto os acontecimentos políticos, a apreciar-lhes o papel
e influência sobre as diversas categorias da população, a encontrar para o partido
revolucionário a melhor maneira de agir sobre esses acontecimentos. Os
problemas técnicos – o fornecimento devidamente organizado de materiais ao
jornal, a sua difusão – obrigam já a dispor de uma rede de agentes locais ao
serviço de um único e mesmo partido, agentes mantendo relações pessoais uns com
os outros, conhecendo a situação geral, exercitando-se a executar regularmente
as diversas funções fragmentárias de um trabalho à escala de toda a Rússia,
treinando-se na preparação desta ou daquela acção revolucionária. Esta rede de
agentes[1] constituirá precisamente o esqueleto da organização que nos faz
falta: suficientemente extensa para abarcar todo o país, suficientemente larga
e diversificada para realizar uma divisão de trabalho estrita e pormenorizada;
suficientemente firme para poder, em todas as circunstâncias, sejam quais forem
as «viragens» e as surpresas, prosseguir sem desfalecimento a sua tarefa
própria; suficientemente flexível para saber , à uma, evitar a batalha em campo
aberto contra um inimigo numericamente superior que agrupou todas as suas
forças num único ponto, e , à outra saber aproveitar-se da falta de mobilidade
desse inimigo e cair sobre ele quando e onde ele menos o espera.Hoje,
incumbe-nos a tarefa relativamente fácil de apoiar os estudantes que se
manifestam nas ruas das grandes cidades, amanhã, a tarefa será talvez mais
complexa, como será a de sustentar o movimento dos sem-trabalho nesta ou
naquela região. Depois de amanhã deveremos estar nos nossos postos para
desempenhar um papel revolucionário numa revolta camponesa. Hoje, devemos
explorar a tensão política que foi engendrada pelo governo com a sua campanha
contra os zemstvos. Amanhã, deveremos encorajar a cólera da população contra os
abusos deste ou daquele bachibuzuque czarista e contribuir, com o boicote, com
as campanhas de agitação, com as manifestações, etc., para lhes infligir uma
lição que o faça, publicamente, bater em retirada. A fim de atingir este grau
de preparação para o combate, é preciso a actividade permanente de um exército
regular. E se agruparmos as nossas forças num jornal comum, veremos formar-se
no trabalho e sair das fileiras não somente os mais hábeis propagandistas, mas
também os mais experimentados organizadores, os mais capazes chefes políticos do
Partido, que saberão, no momento preciso, lançar a palavra de ordem da luta
final e assumir a direcção dela.
Como
conclusão, duas palavras para evitar um possível mal-entendido, temos estado a
falar de uma preparação sistemática, metódica, mas não quisemos de modo algum
dizer com isso que a autocracia não possa cais senão na sequência de um cerco
sistemático ou de um assalto organizado. Isso seria raciocinar como um
doutrinário absurdo. Ao contrário, é possível e muito mais provável no plano
histórico que ela caia sob o choque de uma explosão espontânea ou duma dessas
complicações políticas imprevistas que a ameaçam constantemente de todos os
lados. Mas não existe partido político, que possa, sem cair no espírito de
aventura, regular a sua conduta com base em explosões e complicações
hipotéticas. Devemos prosseguir um novo caminho, realizar incansavelmente o
novo trabalho sistemático, e quanto menos nos basearmos no imprevisto, mais
aumentarão as possibilidades de nunca sermos apanhados de surpresa pelas «viragens
históricas».
Publicado
no Iskra, n º 4, de Maio de 1901
PSOL Amazonas
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